segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A borboleta-pavão e a quietude

As borboletas sempre trazendo boas novas...

Fui viver o dia, viagem, trabalho, telefonemas, documentos, e-mails, cartório,  contrato, planejamentos, resoluções...viagem...calor, muito calor, gente, muita gente, barulho, trânsito...enfim, lar, doce...chuva, vento, temporal, vendaval, água minando janelas adentro, panos, toalhas, movimento...raios e escuridão, lição de casa da irmã, jantar da mamãe e da prima, conversas, alegrias, lembranças, um pouco mais de trabalho, internet, passagem, pagamento, planejamento...finda a chuvarada, volta o clarão...

Enfim, parte dois...lar, doce, lar...volto do dia vivido, ávida por bom descanso, eis, que para suave espanto, ainda alí estava ela, a borboleta-pavão, estaticamente pousada, pausada, como a deixei pela manhã...

Voou meu pensamento à quietude do alvorecer,  à solitude do silêncio do sol na estrada, a nascer, ao lento despertar em companhia de um sorriso largo e assonado, encrustado de bem querer... 

Antes de sair para viver o dia, registrei a exibição singela da borboleta-pavão, que veio morar comigo há uns dias, dois ou três, prostrou-se sobre a cama, abriu com desdém um pouco das asas, fez pose e recolheu-se...Assim a encontrei no fim do mesmo dia, recolhida em sua existência, maripousa, borboleta-pavão...  

Fiz menção de espanta-la de meu leito, ela fez gracejos,  fingiu que voaria, reexibiu suas cores, agora, sem vergonha alguma, aquietou-se, toda de asas abertas, como por provocação,  voou para perto, olhou-me, recolheu novamente as asas-penugens...aquietou...asas eretas, mente clara e coração tranquilo...

Aquietei também o tumultuoso dia que passou, senti o cheiro da cidade molhada, ouvi o vento refrescante chamando o sono pra junto de mim...hora do banho morno, da roupa leve, do lençol macio, do travesseiro fofo, da sutil saudade espalhar-se pela cama, metade vazia...dos bons sonhos...com futuras, breves, realizações...


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Reflexões diante de outros olhos, que não os do Espelho, meu amigo.

Espelho, Espelho meu, existe alguém que nunca se espante diante das tuas reflexões?...

Sabe, Espelho, não me convencem mais os teus apontamentos cruéis, os defeitos são aliados, companheirinho meu, mas insista, pois, que tuas ironias, me fazem enxergar mais distante, mais profundo, mais de mim.

Parece que os dias não passam para você, amigo...às vezes tão rude ou tão delicado, meu amigo Espelho, "de lua", como eu, teu brilho continua claro, teus reflexos declaradamente límpidos, a moldura, madeira forte, firme, apesar de opaca, vou dar um trato em você, querido, apesar de ter tentado distorcer minhas verdades, nos últimos dias, ainda te quero bem.

Depois de tantas mudanças, cá estamos, nosso momento de partir, ainda demora...lembra de nossa primeira mudança de cidade? Quando chegamos a Araras, penduramos você em meu quarto, eu com 8 anos, cabelos bemmmm longos, escova em punho e extensas conversas, diante de ti, com os amigos invisiveis que só você conheceu, estiveram sempre me ajudando a conquistar a feminilidade, a vaidade dosada e o carisma, que em criança eu custava a aceitar...bicho do mato, como diziam...

Agora, Espelhaco, já consigo me ver diante de ti, dentro dos meus próprios olhos, começo a compreender tuas verdades...tantos anos juntos, me viste pentear os cabelos, a sair do banho, escovar os dentes, aprumar as vestes, maquiar a face, apalpar a pele, brincar, rir, chorar, fazer amor...

Começam a me encantar as tuas verdades...pois são as verdades refletidas nos olhos...as verdades refletidas nas ações...são minhas, as tuas verdades, não é, amigo?

Começo a compreender...

Quando muda o meu olhar, muda o teu...Espelho...refletes o que vai dentro de mim, além do que vai fora, refletes aquilo que escolho enxergar, o reflexo de você em mim, são meus próprios devaneios...ah, amigo de tantos anos...refletes meu ego, meus sonhos e meus pesadelos...

Ainda bem que não és único a me refletir, tenho outros olhos a encarar os meus, a encantar os meus, quando meus olhos se encontram diante de outros, que não os teus (que são os meus), Espelho, o ego tende a se amansar, posso ouvir outras reflexões, as "nossas", não mais as minhas que se multiplicam e reforçam no seu refletir...

Me faz feliz ver em ti o reflexo do amadurecer, mas são os instantes em que tenho outros olhos diante dos meus, sussurrando diferentes verdades, são outros olhos fitando os meus, que me transformam em quem de fato sempre desejei ser...
Isso é um pouco da vida, Espelhinho... Encontros, desencontros, reencontros, reflexões e transformação continua...

Isso é um pouco de nós, meu querido...transformações continuas...A vida é isso, também...o espelho de nós...

Bom dia, amigo, até o fim do dia...vamos lá, viver, mais um dia feliz...um de cada vez...



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cidade emoldurada ou lampejo

Olho a moldura da cidade,
da minh'alta janela, claridade,
a linha que termina o céu,
no espaço terrestre que a vista abrange,
horizonte, círculo máximo da esfera,
futuro, perspectiva, destino,
desatino, lampejo, prevejo:

além das histórias que vivi,
sou já, as que almejo. 

Limeira, a lua cheia e enevoada, 
vista da minha janela, neste instante.




Caça ao tesouro

Caçar versos nas histórias vividas é cavar o inconsciente...o eu adormecido acorda lírico...as lembranças aprendem a se fantasiar de poesia e, um belo dia, não precisam mais da pintura, passam a nascer versadas, coloridas, sonoras e encantadoras...


sábado, 15 de janeiro de 2011

Verso em movimento

Vez ou outra, quando leio meus versos, anseio silenciar,
sem piedade, revoltam-se as palavras, rebelam-se a dançar,
engolem pensamentos, desatinam poematizar.

Passo a passo
Verso a verso
Prosa a prosa

Gosto dos dias mudos,
Mas amo as noites de prosa e verso...

Contar o mundo com belas palavras é como escrever cartas de amor,
parece sempre piegas, mas o prazer é imensurável.



Para o blog-poeta Cauê:

www.prosaemmovimento.blogspot.com

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Frágil farfala

Borboletas amarelas 
Devolvem meu contentamento
Uma delas há pouco passou por mim
Mas hoje as tormentas pediam quinhentas 
Céu com nuvens desenhadas e feixes de sombra em luz
Por de um sol alaranjado na estrada 
Um bom pacote de gargalhada
Tabletes de prosa rosada
Água quente nos ombros
Respiração profunda
Pele enrugada de banho sem fim...

Farfala de contentamento, vôo com suavidade,
nas asas da borboleta, beleza e fragilidade. 


sábado, 8 de janeiro de 2011

Alagamento

Enquanto cai a chuva
a cidade esvazia,
diante do ser solidão
seu coração silencia.

Desaparecem os pássaros das copas,
as pessoas se apagam das praças,
a vida quase pausa,
enquanto o céu deságua sobre nós.


Limeira, praça Toledo Barros. A vista da minha janela, neste instante.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sentido - direção - sensação

Um sopro leve na nuca, num dia de calor intenso
Um cobertor suave, no frio inesperado da madrugada
Carícias no rosto cansado do dia, com a ponta dos dedos e alegre melodia

Encontrar alguém caminhando no mesmo sentido,
para além do horizonte comum, 
embarcar nas mesmas correntes de ar, 
voar...voar...voar...por entre outros, 
seres-espaços-diversos


Quando a noite vier, 
ao te reencontrar,
fixar nos meus olhos, teu olhar, 
sorrir, tatear, compartilhar o amadurecer

Engenhosos desejos, 
objetivos vibrantes,
fogo nas ventas,
movimento constante


Realizações a todo instante presentes,
a emergir do teu, do meu inconsciente,
pequenos-grandes sonhos segredados, 
transbordam rasgando verbos desvalidos

Contemplando nosso futuro traçado, comemoro cada relação vivida,
momento exato da vida, pra te conhecer, 
o que ficou de cada amor vivenciado, 
o que fica de cada olhar correspondido, 
beijos ou outras malícias quaisquer


o que permanece de outros amores em nós, 
nos torna ainda melhor...
juntos




sem pontos finais...





segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Tricôt de ano novo

Floripa, 02 de janeiro de 2011.

Um cão peludo contemplando o mar e o bem viver pairando no ar.


Abro alas a 2011 com desejos intensos de que você se relacione bem, consigo, com os outros(de quaisquer espécies), com o ambiente, com o ritmo natural do ser; que o tempo passe cativante e a ti desvende a essência do bem viver!

Desejo que os dias sejam alegres, as tristezas bem breves e os amores sem tamanho...

Que a sua profissão não te dê trabalho, seja ela, uma das vertentes do seu modo de levar a vida, como as diversões, os passa tempos, os estudos e as relações ... sejam todos os afazeres, fluentes da sua filosofia; desde já, costure as atividades com o novelo das afetividades...que cada ponto aumente um conto dos que têm final feliz!

Um ano de poéticas realizações...